Tinha um orgulho danado de ser do jeito que era, e quem conhecia o Cory de perto sabia que ele era até enjoado no cumprimento de seu dever. Mas era o seu modo de agir e brigava, ou melhor, não gostava de aceitar registros de crianças com nomes de artistas, principalmente estrangeiros. Dizia que as mães, que geralmente é quem levava o menino ou menina para registrar, não sabiam nem escrever nem o nome direito. Tinha também o orgulho de que, quando casamento era na Igreja Católica, somente fazia o andamento dos papeis, quando o casal já passava pelo Cartório de Registro. E sempre dizia: sem o carimbinho do Cory nada tinha de casamento no Religioso, isto era o orgulho do Cory.
Um dia, uma pessoa, peço desculpas por não declinar o nome, me convidou para o seu casamento e eu que sabia que o mesmo já havia sido casado na cidade de Juiz de Fora. Eu até, no dia do meu primeiro casamento, eu perguntei a ele: fulano como você vai se casar? Se você não havia divorciado, como é que vai se casar de novo? Como eu conhecia o assunto, ele então me disse que ia se casar somente na Igreja, pois no seu primeiro casamento havia se casado no Civil. Então eu lhe indaguei: mas para se casar na Igreja, você teria que arrumar os papéis lá no Cory. Então ele me disse que havia ido em Mariana e ele explicado sua situação, e tendo feito um pagamento extra, autorizaram o Padre daqui de Raul Soares a fazer o casamento. Achei meio estranho, mas o casamento foi realizado.
Como sempre, isto antigamente, naquela época em que os goles falavam mais do que eu. Já meio chapado, resolvi provocar o Cory, ajudado pela liberdade que tinha com ele e tinha por ele uma admiração. Um homem como ele, ficar viúvo com sete (7) filhos, agüentar o dever e cumpri-lo, não é fácil. Somente deu azar de perder dois filhos prematuramente. Venceu, sendo os demais, apesar de outro ter falecido já com certa idade, orgulho de qualquer pai (isto não é puxa-saquismo não, viu?). Mas, voltando à vaca magra sobre o casamento, cheguei ao Forum e sempre sentávamos num banco de cimento que ficava ao lado da entrada. Passei a conversar sobre casamento e o Cory dizendo: sem o carimbinho do Cory não tem Casamento no Católico. Nisso, vem o noivo que havia me convidado e parou para convidar o Cory para o seu casamento, que também explicou o que havia falado comigo. Olhando para o Cory, fiquei até com medo dele passar mal, mas graças a DEUS nada aconteceu.
Não passou nem uma hora apareceu um casal, parece-me da roça, que vinha arrumar os papeis para o casamento, ele prontamente arrumou a documentação e marcaram o dia e, coitados, sem saberem do que havia acontecido, pediram o papel para apresentarem na Igreja. Levaram pelas caras, coitados, sem saberem de nada. Cory ainda mandou falar com o pessoal que arranja os documentos para se casarem, que a partir desta data ele não daria mais papel nenhum, E, por ouvir dizer que alguém ligou para o Cory, mas ouviu boas e umas dele, pois o que eu o conhecia deve ter desabafado e no meu entender com razão.
Cory pela amizade que tinha com meu pai entre eles a saudade é muita, mas sei que pelo que fizeram pela vida, tenho certeza que o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO deve te-los recebido maravilhosamente.
Papai quando estava doente, pediu ao Cory que fosse enterrado com terno, camisa, gravata, meia e sapato e também que a sua catacumba fosse com 14 palmos. Cory indagou: compadre para que isto tudo, inclusive com o sapato? Aí papai respondeu: pois poderia chegar lá e ter um baile e como ele faria para participar do baile descalço. E, quanto aos 14 palmos, ele tinha mais ou menos quase uma certeza de que logo que ele morresse eu (Marco Pacheco) com a bebeção que eu estava nela, já já eu também iria e assim eu ficaria por cima dele, mas longe, para não encher o saco dele.. E assim foi feito com o falecimento do papai. Mas eu dei o bolo nele e espero ficar por aqui ainda um bom tempo, mas se eu tiver que ir, espero que ele me receba, juntamente com vários amigos que aí estão fazendo uma grande festa. SARAVÁ.
Um comentário:
Puxa vida... Engraçado... Fico muito feliz e surpreso em conhecer um "causo" verídico de meu avó... Cory Chaves. Queria eu, que meus avôs ainda estivessem vivos, agora que sou adulto, poderia pedir que eles próprios me contassem mais "causos" como este... Att Marconi Chaves... filho de Marcos Chaves... Que Deus o tenha...
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